quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Doces Desvaneios

Não sei até que ponto o alcool é o melhor ou o pior amigo do homem. Talvez dependa de cada um, e o meu posicionamento a muito já foi decidido.

A esses doces devaneios atribuo os danos mais colossais de minha alma, feridas de um amargo frescor.

Creio que se existe um demônio na terra, esse reside no álcool. Capaz de dar vida aos desejos mais imorais e passionais, a liberalidade do álcool me assusta. Sua libertação se resume ao passado e ao futuro, juntamente com tudo que neles há.

O presente é o determinante, o agora. Mas infelizmente a vida possui uma dinâmica um tanto mais complexa que o imediatismo da embriaguez. A vida torna-se rala quando diluída nesse mar de paixões... um ato impensado e será tarde demais para reverte-lo, não haverá álcool o bastante no mundo para afogar seu arrependimento no dia seguinte, ó, o duro dia seguinte.

O pior defeito, ou efeito, desse demônio é esconder-se na manhã, geralmente com o raiar do sol onde a lembrança da noite empalidecem o seu rosto. O demônio deixa você encarar as conseqüências sozinho. Sem música, sem amigos e sem o fluir sexual da noite anterior. Conseqüências demasiado reais para experiências que agora figuram como lúdicos sonhos em suas lembranças.

Longe de ser um árduo defensor da moral, acredito apenas no uso responsável do álcool. Você pode não ter consciência de seus atos quando embriagado, mas por sua embriaguez é completamente responsável e por tudo que ela acarreta.

“Quem não bebe tem algo a esconder”, brilhante, assim definiria a afirmação de Baudelaire. Não bebo pois tenho algo a esconder, a desconhecida fera que vive enjaulada dentro de mim, conheço-a apenas o bastante para detestá-la com todas as minhas forças.

Ressentido pela minha dor e por toda essa inútil responsabilidade, penso em juntar-me a eles já que não posso vencê-los.
Abriria a jaula e libertar-me-ia dessa abominável fera, junto com toda a minha razão. Famintas estariam as minhas paixões, arruinaria expectativas, destruiria relações, desconsideraria tudo e a todos e do vazo do erro beberia incessante.

No dia seguinte atribuiria toda a culpa ao álcool, imploraria compaixão, apelaria para os sentimentos afim de aliviar-me de meu peso que transita entre culpa, e satisfação e egoísmo.

Mas creio não ser capaz de tamanha crueldade.

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